quinta-feira, 26 de março de 2009

Luiz Carlos Prestes

Luiz Carlos Prestes

Caminho pelo desconhecido os homens e as árvores
São fantasmas e o céu sem nuvens
É a abóbada de um pesadelo
Entretanto na floresta selvagem
Nada me priva do que é meu
Nem as aspirações da aurora nem os monstros
Da noite sufocante
Nem o horror da dor
Que se instalou em Auschwitz
Nada pode me privar de minha pátria querida
O Brasil lá onde meus irmãos necessitam de mim
Pois eles viram fundirem-se há tantas vidas
A dor a minha dor
E o vazio de sua vida
Se sou apenas um homem entre todos os homens
Que pelo menos eu mostre a todos que eu conto com eles
Há um sol eterno para cada um
Não quero sombra nem injustiça
É o povo que me revela a luz
Sua necessidade de luz no fundo do seu sofrer
Não fiz nada além de ser um homem
Que não desiste de uma vida melhor
Caminhando incessantemente somos nossas esperanças
Tenho tantos irmãos sobre a terra
Que nunca ficarei sozinho
Eu conjugo nossas forças clamo por todos
Saberem
Na minha terra a floresta é mais forte
Que o machado que combate a árvore
Estou na minha terra recorro a ela sirvo-me dela
Até que o machado ceda
Minha terra é minha força ela me sustém
Ela pertence ao povo ela me pertence
E brevemente iremos fruí-la
Hoje nada pode destruir
Os corações que palpitam no meu coração
Seguimos todos a mesma estrada
Um caminho de pedras de espinhos
Mas nossa caminhada é suave ao solo
Nossa cabeça ao sol é doce
Do fundo sombrio do Brasil
Levanto véus negros
Espalho luz por tudo
Sou aquele que confia
Sou aquele que exaspera
Os serviçais da ignorância
As negações do egoísmo
Quero conquistar a felicidade
Quero abrir todas as portas
Minha esperança percorre o mundo
De todos os cantos vozes me respondem
A miséria perde terreno
Avanço e em toda parte nossas mãos nuas formam o leito
Sementes hoje
Colheitas amanhã.

Paul Éluard

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