sábado, 30 de outubro de 2010

SEMENTE


SEMENTE
Aparecido Donizetti Hernandez


Depois da chuva, úmida e suave, a brisa sopra,
Pássaros saem a cantar,
Aleluias forram o céu a voar,
Pássaros a se alimentar.

Depois da chuva, saio à rua p'ra te ver passar,
Olhando o céu...
Vendo os pássaros se alimentarem,
As aleluias a voar...

Depois da chuva, te vendo passar
Com a semente do amar,
Como os pássaros a se alimentar,
As aleluias a voar...

segunda-feira, 18 de outubro de 2010

INVASÃO


INVASÃO


Com que direito
Entraste em meu mundo
Ofereceste guarida
Pra depois me abandonar?

Com que direito
Mexeste com meus sentimentos
Deste-me alento
Se não era pra ficar?

Com que direito
Chegaste assim de mansinho
Cobriste-me de carinho
Fazendo-me apaixonar?

Com que direito
Fizeste-me assim sofrer
Com tamanha dor em meu peito
Vendo-te partir pra não mais voltar?

Com que direito
Transformaste meu tudo em nada
Abalaste minha inspiração
Tirando-me do viver a razão?

Com que direito
Colocaste minha vida de pernas pro ar?
Ah! Não tinhas este direito...
De meus sentimentos revolucionar

Clau Poeta
13/10/2010

DESENHOS DE AMAR


DESENHOS DE AMAR


Pensei que nessa vida eu amaria
Como a praia ama o mar
Como as tintas a sua tela
Como as flores a bela primavera

De certo errei quando tentei
Amar eu realmente não amei
De fato eu sei, nem amarei
E tudo enfim é só quimera

Amores existem para ser vividos
Tem cheiro, cor e sabor
Não os jogue assim ao vento
Não os torne dissabor

O coração as vezes fechado
Impede sua entrada
Veja-o como algo lindo
Uma bela tela pintada

Adriano Húngaro
Claudete Silveira
(Clau Poeta)

VOO CEGO



VOO CEGO



O poema que lateja em mim
tende ao invisível.
Depois de tanto balanço,
idas e vindas,
buscas inimagináveis
pelo contorno perfeito,
- lá vai ele –
cavar seu espaço no mundo dos olhos
ouvidos e sentimentos.
Sem nenhuma garantia, irrompe e nasce...
O escuro é a luz que o espera
e o deserto de almas...seu desafio maior.
Quantas surpresas o aguardam!
Ninguém prepara o poema para ser preterido
ou trocado por um voo cego, na noite.

Basilina Pereira

A PONTES

A PONTES


Talvez minha vida tenha sido usurpada
por um sentimento maior que o medo,
pela insegurança que me rege os passos
ao contornar os dias sem face
e as noites sem espelho.
Ouço as músicas que nunca tocarão
no aparelho da minha sala
e sonho com as festas
que minhas amigas antigas
tiram de outros tempos
para recordar.
Sinto que minha infância não me pertence
e não sei como chegar à velhice
sem as pontes...todas as pontes
que não pude atravessar.

Basilina Pereira

INTENSIDADES

INTENSIDADES


Desencontrada do meu destino
Tua presença se faz marcante
Moldada no dia-à-dia
Sou um ser itinerante
Busco saudades que já não voltam
Vivo no pouco meu muito
Intenso é cada segundo
E de nada me arrependo
Assumo que tenho medos
E os enfrento de cabeça erguida
Se caio, logo levanto
Sou amor
Sou mutante

Claudete Silveira
(Clau Poeta)
10/10/2010

BALADA DO CAMINHO


BALADA DO CAMINHO



Este silêncio indeciso,
tatuado de leveza,
é disfarce, é improviso
à espera de uma surpresa.

As coisas podem não ser
justo aquilo que aparentam
é difícil perceber
o sentimento que tenta

proteger-se dos espinhos
sob a rosa estremecida,
quando o homem deixa o ninho
traz consigo a despedida.

Vai em busca da alegria
que ouviu contar nas histórias,
sem saber que cada dia
tem sua própria trajetória

que pode ser sinuosa,
com barreiras pra transpor,
quem quer sua vida ditosa,
deve escolher bem a cor.


Basilina Pereira

O LIMIAR

O LIMIAR


O que restou de uma vida que se desintegrou?
Será que alguém apanhou sua luz,
decorou seu poema favorito
e guardou sua canção antiga?
Ah! os filhos!
De onde vêm? Para onde vão?
Ignorados...amados... estão vivos.
Estão?
A morte é a certeza do dia,
sob o ranger das dobradiças:
pedaço de céu,
pedaço de dor...
Ah! se ao menos os meus versos
ecoassem entre os teus passos...
qualquer pegada...mesmo longe...
só para lembrar um pouco a eternidade.

Basilina Pereira

MUDANÇAS

MUDANÇAS

A roda gira ante meus olhos
e não sei aonde ela vai parar.
Há estrelas sob meus pés
e jazidas em minha mãos.
Nada justifica a tristeza que canta,
a não as flores que não se abriram.
Estou atordoada: a velocidade me ultrapassa.
Sei que hoje algo será inventado:
- sempre o bombardeio do novo -
mas sobram olhos aflitos atrás das lentes!
Não conheço mais as cores e sou tão outra dentro da mesma,
até sofro de tremores nos dedos.
Ainda bem que o amor não muda!

Basilina Pereira

O CHAMADO

O CHAMADO


É...talvez!
Um punhado de sonhos
perdidos entre as estrelas
e eu aqui...já sem poder sonhar.
Um dia acreditei.
Senti a verdade sob os lençóis,
na concretude das mãos,
dos lábios...do sol.
Era noite, mas a vida pulsava:
havia a música, festas,
os sábados eram fiéis,
os domingos ao alcance da mão
e eu vivia minha própria história.
Mas isso foi num tempo
em que eu chamava pela vida
e ela me respondia.

Basilina Pereira

DESPUDOR

DESPUDOR

Teu carinho
me encanta
leva-me ao céu
Teu desejo
junta-se
ao meu
meu corpo
inflama
te chama
te quer
Sou
fogo latente
mulher irreverente
sem preconceitos
Quero teu corpo
teus beijos
Em teus braços
saciar
meus desejos
depois
calma e serenamente
ao teu lado
adormecer

Claudete Silveira
21/09/2010

domingo, 10 de outubro de 2010

MEU SILÊNCIO

MEU SILÊNCIO
Aparecido Donizetti Hernandez



Em meu profundo silêncio estou pensando em ti,
Vendo-a sonolenta na cadeira,
Imagino se estás sonhando...
Sonhando com o que?...


Nesta viagem de sonho,
De seus sonhos,
Onde me encontro,
Imagino estar em seus sonhos,
Nesse túnel do tempo
Transportando a ti para longe...
Longe do meu silêncio.

Silêncio que faço
Em meus tortuosos pensamentos
Que me transporta para perto de ti,
Tentando encontrar-te nos meus sonhos,
E estar em seus sonhos...

sábado, 9 de outubro de 2010

NA PONTA DO LÁPIS

NA PONTA DO LÁPIS
Aparecido Donizetti Hernandez


Com suas mãos em minhas mãos
Desenhei as primeiras letras,
Construí as primeiras palavras,
Fiz os primeiros desenhos,
Aprendi o alfabeto,
Iniciei na gramática,
Contigo aprendi matemática,
Aprendendo a somar e a dividir os números.

Contigo conheci deuses e semideuses
Que moraram no Monte Olímpo,
Passiei em cavalos alados...

Contigo aprendi a conhecer os relevos,
As montanhas e o planalto,
A ver as estrelas e os planetas.
Aprendi o que é o nível do mar,
O que está acima do nível do mar,
Conheci a história da humanidade,
A passada e a contemporânea.

Com suas mãos a gesticular me fez pensar...
Conhecer o folclore:
Curupira, Negrinho do Pastoreiro e Salamanca do Jarau.
Contigo, a me fazer pensar, abriu-me o mundo
Nos livros que me fizestes ler, reler e sintetizar.
Contigo, nosso mundo está nas mãos
E tu os transporta ao nosso cérebro
.
Não te esqueço com suas mãos em minhas mãos,
E na ponta do lápis me ensinastes a escrever e a ler
As primeiras letras desenhadas
E as primeiras palavras construídas
Que abriu-me o mundo...
Meus Mestres!



MÃE DOS OLHOS NEGROS


MÃE DOS OLHOS NEGROS
Alini Aparecida Souza Oliveira




Mãe de tudo e de todos

Cubra-nos com o seu manto,

E acenda a luz dos nossos corações

Nos mostrando a verdadeira fé.

Eu sei que posso te sentir

Onde estiver, Nossa Senhora,

Mãe dos olhos negros

Ensine-me amar, como amou

Seu filho Jesus.

Mãe que acompanha muitas famílias

Trazendo a fé, o amor e o caminho entre todos,

Milhares são reais, pois curastes muitos filhos seus.

Nos leve no caminho da luz

Onde se encontra a paz

Que a muito ninguém sentiu.

Amai e serás amado

Por tudo e por todos

Se quiser senti-la basta

Ter fé e acreditar

Abençoe nosso Brasil

Mãe dos olhos negros

sábado, 2 de outubro de 2010

OVOS DE ANU


OVOS DE ANU
Aparecido Donizetti Hernandez
- Prosa -

A vida no interior era boa e, ao mesmo tempo, dura: boa para a infância, onde o menino brincava com seu carro de boi feito de lata de sardinha em conserva, onde fazia dois furos, passava barbante, com gravetos furava duas pequenas laranjas ou limões sicilianos e atrelava sua junta ao seu carro de boi feito de metal.
- Deitado ao chão puxava de lá para cá seu carro de boi cheio de gravetos imitando o que via no original. Esvaziava e enchia de novo... assim passava horas e horas sob a sombra do pé de carambola, onde o chão era de areia tão fina e branca que parecia talco -
Ao mesmo tempo em que fazia sua lida imaginária olhava as jabuticabeiras em flor, a grande árvore de manga-espada florida, ouvia o cantar do canário-da-terra... ao longe chamava a atenção um bando de anus; e o menino quando não estava na lida com seu carro de boi, ia visitar os enormes ninhos e recolher seus ovos brancos que colocados às mãos ficavam azulados.
Como poderia o menino resistir em tê-los às mãos?
Com mãos habilidosas nona Amélia fazia colares: com agulha fazia dois furos nas extremidades dos ovos, com jeito e paciência para não quebrá-los, retirava clara e gema, passava linha por entre os ovos, um a um, e estava pronto o colar azul para enfeitar o pescoço do menino.
Enquanto brincava, ora de carro de boi, ora procurando ninho de canário-da-terra, acompanhando o botar dos ovos, acompanhando passo a passo o nascer de novos canários e seu desenvolvimento... às vezes, na companhia de um enorme cão chamado Gavião.
Na primavera, com as jabuticabeiras, o pé de carambola e o cafezal em flores também floresciam os capitães num lindo jardim reservado somente a eles - era o xodó de nona Amélia - , onde borboletas multi-coloridas passeavam... mas menino é menino e lá se ia de peneira às mãos caçá-las e amassar as flores de Capitão.
A brincadeira de caçar borboletas era a brincadeira condenada: nona Amélia ralhava com o menino para sair do canteiro e soltar as borboletas; ele atendia, mas cinco minutos depois, lá estava ele de novo a caçar.
Menino é menino!
O menino gostava de fazer e armar arapuca, que servia para caçar especialmente pombas do mato - naquela época era normal crianças do interior fazerem isso - ,
Mas, o que o menino mais gostava, além de brincar com seu carro de boi sob a sombra do pé de carambolas, era recolher, nos grandes ninhos, os ovos brancos de anus pela beleza de vê-los ficar azul e ver nona Amélia fazer colar. E lá se foi o menino em mais uma aventura, a subir numa enorme jabuticabeira para apanhar os ovos: os anus "grunhiam" brabos, pressentiam que boa coisa não iria acontecer. - A enorme jabuticabeira formada por dois galhos principais saindo do tronco em forma de ipsilon -. Quando o menino estava a, mais ou menos, vinte centímetros do primeiro ninho, com seu pequeno braço agarrado ao tronco, não viu a pequena taturana ao lado oposto do galho, tal como a proteger os futuros filhotes de anus, “queimando” seu braço.
Menino é menino!
E aos berros, o menino clamava por nona Amélia, que com sua sapiência agarrou a taturana matando-a, esfregando suas "tripas" ao pequeno braço do menino... e como que um bálsamo a dor se foi como um toque de magia.
Depois dessa experiência, nunca mais o menino foi pegar ovos de anus, nunca mais teve colares coloridos com os ovos azulados.
Mas... menino é menino!